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agosto 26, 2007

O Tempo e a Alma 



Não quero ser o último a comer-te.

Se em tempo não ousei, agora é tarde.
Nem sopra a flama antiga nem beber-te
aplacaria sede que não arde

em minha boca seca de querer-te,
de desejar-te tanto e sem alarde,
fome que não sofria padecer-te
assim pasto de tantos, e eu covarde

a esperar que limpasses toda a gala
que por teu corpo e alma ainda resvala,
e chegasses, intata, renascida,

para travar comigo a luta extrema
que fizesse de toda a nossa vida
um chamejante, universal poema.


Carlos Drummond de Andrade







Agora vou perder-me no serpenteado do Douro e entre as fragas espalhar umas cinzas.
De seguida, convidarei os deuses para um repasto com fruta da época.
Só então estará completa a catarse.

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